sexta-feira, 27 de julho de 2012

O epitáfio do apóstata



Infeliz do rato que só tem um buraco, do macaco que tem só um galho, do baralho que não tem o coringa, da seringa sem a agulha, da patrulha sem apito, do pito sem fumaça, da carcaça sem o motor, do atirador sem o alvo, da alvorada sem o sol, da solidão sem a viola, da violência sem a malícia, da milícia sem a mala, do malabar sem a bola, da bolacha sem o chá, do xarope sem a tosse, do tosso sem o chinelo, do martelo sem o prego, do cego sem o bastão, do baião sem a zabumba, da tumba sem o epitáfio, da epístola sem o apóstolo, da apostasia sem a fé, do fenômeno sem o talento, do talhante sem a faca, da barca sem o remo, do ramo sem o tronco, do tranco sem o barranco, do banco sem o balanço, do balancê sem a quadrilha, do quadrado sem o canto, do canto sem o refrão, do refratário sem a lei, do leilão sem o martelo, do martel sem o martini, do mártir sem a cruz, do crucial sem a dor, do dolorido sem a pomada, do pomar sem a carambola, da carabina sem a mira, a mora sem o juro, o jurado sem o réu, o céu sem as estrelas, o estrelato em o palco, o talco sem o bebê, a bebedeira sem o bar, o mar sem a marola, a bitola sem os trilhos, o tralho sem o rio, o frio sem o edredom, o som sem a batida, a batina sem o terço, o quarto sem a cama, a fama sem a fortuna, o fortuito sem a surpresa, a represa sem a chuva, a luva sem a mão, a mãe sem os filhos, o atilho sem as espigas, a fadiga sem a rede, a sede sem a cacimba, a catimba sem a bola, a argola sem o laço, o abraço sem o afeto, o fato sem a foto, o foco sem o flash, a flexibilidade sem o jogo de cintura, a tintura sem o preto, o preito sem a gratidão, a gratificação sem o merecimento, o emagrecimento sem a dieta, a direta sem o rumo, o rumor sem o boato, o boto sem a lenda, a lêndea sem o cabelo, o cabedal sem o cabide, a cabidela sem o sangue, o sanguessuga sem a verba, o verbo sem o sujeito, o sujo sem o sabão, o sábio sem a lição, a liça sem o laço, o lacre sem o sinete, o sinal sem o recado, o rescaldo sem a brasa, a brisa sem o sereno, o serrano sem o frio, o vazio sem o silêncio, o silo sem o grão, a granja sem o pinto, o ponto sem o nó, a novidade sem a mídia. Como diz o outro: diga lá! 

domingo, 22 de julho de 2012

Manuscript 21-07

O piso afunda e a funda acerta


De grão em grão a galinha enche o papo, o sapo sapateia, o sapato aperta, a porta emperra, a terra pára, a cara suja, o sujeito xinga, a ginga gira, a gíria pega, a pega peia, a feia casa, a casa cai, a al qaeda ataca, a faca fura, a fera foge, o fugitivo escapa, a capa cobre, o cobertor esquenta, a menta aromatiza, o aramado prende, a prenda aprende, o alpendre assombra, a sombra protege, o proteico alimenta, o elemento compõe, a comporta suporta, a suposição considera, a consignação espera, a espora instiga, a espiga assa, o assaque ofende, a fenda clareia, o clarete embriaga, o embrião desembainha, a Bahia fascina, a faxina limpa, a lima amola, a mola cede, o sedento sacia, a súcia escandaliza, a pitonisa adivinha, o adversário adverte, o advérbio modifica, o módico facilita, o factoide banaliza, o abano refresca, o refrão repete, o repente improvisa, o impróvido relaxa, o relato cansa, a cansanção coça, o cocar enfeita, o enfeitiçado crê, o CD toca, a toca abriga, a briga divide, a dívida multiplica, o multíplice varia, a varicela contagia, a contagem confere, a confissão confunde, a confutação desmente, a desmistificação desmascara, o mascate masca, a mosca lambe, o alambique destila, o estilo marca, a marcha murcha, a micha sacia, o saci salta, o salteador assalta, o assafiado descansa, o desencanto dói, o doesto retorce, o torcedor vibra, o vibrafone toca, o toucador retoca, o reticente fica, a ficção fascina, o fascismo fecha, o feixe quebra, a cabra berra, a barra pesa, o piso afunda, a funda acerta, o acervo conserva, a conversa convence, a convalescença cura, o curau sustenta, o susto acorda, a corda arrebenta, a arrebentação escuma, a escuma elege, a elegia entristece, o entrincheirado resiste, o resignado desiste, o desinteressado esquece, o esquisito ignora, o ignóbil envergonha, o vergão educa, o edulcorado abusa, o abutre abate, o abatinga sabe, o sabiá gorjeia, a gorjeta compensa, o compêndio resume, o estrume fertiliza, a baliza sinaliza, o sinal identifica, o idêntico assimilha, a assimetria separa, a separata destaca, a estaca equilibra, o calibre especifica, o espécime tipifica, a tipografia imprime, a impressão fica. A gente come a galinha e enche o papo.                          

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Manuscript

A ferida aferida


Entre a cruz e a caldeira, a cadeira e o tamborete, o tambor e o clarinete, o sabonete e a toalha, a toalete e a cozinha, a coisinha e o gigantesco, o dantesco e a agonia, o agnóstico e o místico, o mestiço e o ariano, a ária e o orfeão, o órfão e o tutelado, o tutorial e o programa, os proclamas e o divórcio, o divisor e a fronteira, o frontal e o desafeto, o desafeito e o aprendiz, a perdiz e o caçador, o cassado e o eleitor, o leitor e o be-a-bá, o olê, olá e o oba-oba, a arroba e o ponto com, o coma e a morte cerebral, o celebrado e o vencedor, o vendedor e a inflação, a inflamação e a ferida, a aferida e a remarcada, a marca e o pirata, o pirado e o parado, o paradigma e o projeto, o projetor e a imagem, a miragem e o deserto, o desertor e o dedo-duro, a dedução e a hipótese, a hipoteca e a inadimplência, o inadiável e a urgência, a agência e a sede, a sede e a torneira fechada, a fachada e a ficha suja, o sujeito e o predicado, o precavido e o recatado, o recauchutado e o careca, o carecente e o mendigo, o mendorim e o maribondo, o moribundo e o finado, o finalista e o pódio, a poda e o facão, a facção e a falange, a falácia e a fraude, a fralda e a bunda, a abundância e o desperdício, o despertador e o cantar do galo, o galilé e o altar, o altair e o sol, o soldado e a fivela, a favela e o favor, o favo e o ferrão, o ferro e a ferrugem, a penugem e o pentelho, o pente e o piolho, o piolim e o nó cego, a cegonha e a lenda, a lêndea e a coceira, a cocheira e o coice, a foice e o martelo, o cutelo e a jugular, o julgamento e a fogueira, a fagueira e a cobra, o cobrador e o calote, o culote e o estribo, a tribo e o morubixaba, a baba e a boca, a bocaina e a tocaia, a toca e a borda da mata, o mito e o medo, o medonho e o pavor, o pivô e o delito, o deleite e o sono, o sonido e a festa, a fresta e a escuridão, as escusas e a recusa, a eclusa e o navio, o pavio e a chama, a chamada e a ausência, a querência e a distância, o dístico e a metáfora, a metafísica e o metabolismo, o metal e o letal, a letargia e o coma, a comanda e a comida, a cominação e a cadeia, a candeia e as trevas, as travas e o deletar, a delação e o delegado, o degolado e o cadafalso, a falsidade e a mentira. Como diz o outro: fui!                        

domingo, 1 de julho de 2012

Manuscript


Desatinada lucidez


Vontade também consola, marola também afoga, folga demais cansa, nuança também distingue, distenção também contrai, contrato também se rescinde, reincidência se releva, revelação se oculta, ocupação se distrai, traição também se perdoa, padrão também se quebra, cobra também se cria, crua também se come, cume também se escala, escola também desensina, sina também se muda, mudo nem sempre cala, bala também erra o alvo, calvo também se penteia, pentelho também se pinta, pinto canta de galo, galocha também é calçado, calcado também brota, grota também é casa, casa também o acaso, o ocaso também é começo, o comentício também é real, o realce também se apaga, a vaga também se preenche, o preexistente também volta, o voltário também opina, o opimo também falta, o falso também se usa, abusa também quem não tem, teme também o valente, vale também o nulo, anui também o contrário, contrai também um imune, imundície também cheira, cera também descola, desloca-se também o fixo, ficha-se também o limpo, limpalhos também cozinham, coisinhas também contam, contas também caducam, cadente também desafina, desatina a lucidez, lucila também o sol, solidão também diverte, diversidade também combina, combate também se perde, perdão também se nega, negaça também malogra, sogra também ama, amanhã é outro dia, o diabo também salva, o salva-vidas também se afoga, o afago também machuca, o açucar também salga, a mágoa também passa, o passageiro também demora, o morador também se muda, a moda também é démodé, a democracia também reprime, a reprise também é inédita, o inebriante também entedia, o enteado também é filho, o falho também acerta, a certeza também fura, o faro também perde a caça, a raça também perde a cor, a flor também perde o viço, o vício também serve ao dono, o sono também desperta,  esperteza também erra o pulo, o chulo também comunica, o comunista também acumula, a mula também empaca, a paca também peca, o pico também fica, a foca também se afoga, o fogo também se apaga, apego também separa. Como diz o outro: já não tá mais aqui quem falou.