sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Validando a invalidez

Macaco velho não mete a mão em cumbuca, não cutuca onça com vara curta, curte rede social, não soçobra na ressaca, ressabia na subida, subjaz aos perigos, perifraseia a alegação, delega o mais difícil, difere o impossível, impostura o impostor, impõe a sua vontade, vomita seus impropérios, improvisa seus provérbios, verbaliza seus pensares, preconiza seus triunfos, trunfa todos os azares, azanga a morte do díspar, dispara apenas no alvo, alvoroça a liturgia, enluta a monotonia, monetiza a desvalia, desvaloriza os valores, valida a invalidez, invade a privacidade, privatiza a estatal, estatela a testemunha, testifica a certidão, acerta o palpite, palpita sua emoção, emoldura sua arte, articula os movimentos, mobilia o pavimento, pavimenta a rodovia, rodopia de roldão, rodeia a roda de fogo, fogueteia a virgem santa, santiga as maldições, maldiz as decepções, decepa a mão que peca, seca a pimenteira, experimenta a brincadeira, brinda os resultados, resume o arrazoado, arrasa o gabarito, gaba o garbo do gabola, engabela o caçador, caçoa do cansado, cantarola a cantilena, quantifica a quitação, aquilata a lactação, lacrimeja a despedida, despe a veste da tristeza, trisca parceiros de mesa, mede o trecho a percorrer, percute a boa nova, novicia em solidão, solidifica a solidariedade, assola o solo estéril, estereotipa o mais forte, afortuna o mais fraco, fraciona a fortuna, importuna a autoridade, autoriza a liberdade, invade a privacidade, prioriza as tarefas, tarifa a imaginação, imageia a alma gêmea, geme sem sentir dor, adora deuses diversos, diverte platéias tristes, resiste ao cativeiro, cativa almas frias, frisa as relevâncias, revela a desimportância, importa conselhos sábios, saboreia raros segredos, segrega velhos preconceitos, aceita novos conceitos, conserta preceito injusto, ajusta contas erradas, irradia simpatia, empata o jogo duro, dura enquanto viver, revive os anos dourados, doura a pílula, capitula a saga, salga o perecível, parece mas não é, o que quer consegue, consagra o simples, simula a intenção, atenta contra a convenção, convence os céticos, acerta o alvo, alveja a roupa, rompe o cerco, acerca-se de amigos, migra para a mata virgem, vigia as constelações, constata o fim do mundo.                          

sábado, 15 de setembro de 2012

O indizível revelado

Tudo que é bom dura pouco, soco no desafeto, afeto de quem se quer, querência pra retornar, retórica para convencer, vencimento dilatado, dileção retribuída, retrete hegienizada, hegemonia contestada, contexto devassado, devaneios condenáveis, condensado dissipável, discípulo disciplinado, uma disciplina extra-curricular, um corriqueiro aperto de mão, uma demão ao excluído, um sentido para a vida, um revide à aflição, uma inflação de alegria, uma alergia ao dinheiro, um canteiro de bromélias, uma janela para a lua, uma rua sem neon, um som quase sem decibéis, pastéis sem gordura trans, trânsito sem estresse, prece com pouco amém, acém quase sem sal, salada sem vinagre, bagre sem ferrão, ferro sem zinabre, zimose sem muito inchaço, ichó sem nenhuma caça, casca sem calçada, calçado sem cadarço, cadastro com nome e data, data-base com aumento, memento todo em branco, bronca injustificada, injustiça perdoada, perda reparável, reparo reciclável, recidiva contornada, contorno com atalho, talha com água da mina, sina de se dar bem, bem-te-vi de cria nova, novidade com desconto, descontração sem limites, limiar de um grande dia, dia-a-dia sem rotina, o roto bem lavado, o louvado bem recebido, o receio equivocado, o equivalente ilimitado, o limítrofe da sorte, o mais forte subjugado, o subjetivo coletivizado, a coleta seletiva, a celeuma interrompida, a interrogação respondida, a responsabilidade assumida, o assurgente indobrável, o indizível revelado, o revelho remoçado, o remorso reparado, o repasto repartido, o partido vitorioso, o visto deferido, o ferido recuperado, a recusa adiada, a dieta que emagrece, a prece que cura, o cara que aprecia, o preço que cai, o caipira que canta, o cântaro repleto, a réplica treplicada, a trepidez amortizada, o amortiçado reaceso, a reação racional, a ração suficiente, o sofisma contestado, o conteúdo conferido, a confissão espontânea, o espontar aplaudido, o placar reconhecido, o vencido reciclado, o ciclo fechado, o feixe amarrado, o amaro assimilado, o similar confundido, o confugido auxiliado, o exílio permitido, a permissividade contida, o contendor dominado, os domínios demarcados, as démarches positivas. Como diz o sôfrego: acabou-se o que era doce.                            

sábado, 1 de setembro de 2012

A velhice da moral

Castigo vem a cavalo, no embalo da moléstia, na moleira do capeta, no capote do azar, nas asas da inveja, na invasão do domicílio, no domínio do mais forte, na fortaleza do ódio, no ode aos desesperados, no deserto de idéias, no ideal da maldade, na beldade da mentira, na manta da intolerância, na intorção da verdade, no verde da injúria, nas juras da traição, nas tralhas dos desamados, no desmame dos covardes, no côvado da mesquinhez, na aridez de bondade, no bonde do desvario, no desvão dos imprestáveis, na impressão da malícia, na milícia dos poltrões, na poltrona dos pecados, nas pegadas do medroso, na medrança da preguiça, na treliça da intriga, no intrincado do intruso, no intrugir dos espertos, no espessar da soberba, na soberania dos déspotas, no despontar dos imbecis, no imbicar dos malogros, na maloca dos velhacos, na velhice da moral, na morada dos boatos, no bote da cascavel, no casco da mula manca, no manicômio dos lúcidos, no lucilar da fé, na febre do ouro, no ouropel dos idiotas, na idiossincrasia dos atrevidos, no atributo dos canalhas, na canalização dos esgotos, no esgorjar do insaciável, na insalubridade do vício, no viço da corrupção, nos corrupios da improvisação, na improvidência do negligente, no negligível do desdenhável, na desdita do pé-frio, no pedúnculo da incerteza, na crueza da inversão, no reverso da medalha, na média da desavença, no avesso do normal, no mal que vem para o bem, da bênção com a mão esquerda, da merda remexida, no remelexo dos quadris, na quadrilha dos eleitos, no leito do rio seco, na secreção da hidrofobia, na hidrogenação da hidra, na idolatria aos deuses, no deúdo com a infâmia, na infância do infalível, no infacundo da retórica, na retorção dos rumores, no rumo da arrumação, no arrulho do acauã, na cauda do caudaloso, no caldo da marginália, à margem da sanidade, no sânie do ferimento, no fermento da desgraça, nas graças do delinquente, no delírio dos profetas, na proficiência dos loucos, na loução dos vigaristas, na viga mestra do medo, no medrante aviltamento, na avultante discórdia, na corda em volta ao pescoço, no osso de volta ao cão, no pão que falta na mesa, na reza fora do altar. Como diz o pobre: rico ri à-toa.    

sábado, 25 de agosto de 2012

Motivando motins

Não há ouro bastante para pagar a liberdade, inverdade suficiente para anular um fato, fatigar um chato, chatinar um santo, santigar o demo, democratizar o lucro, lograr um turco, truncar o nome, nomear o inimigo, inimistar o amigo, esmigalhar o soldo, soldar o vidro, vibrar com a morte, amortecer o choque, chacoalhar o chocalho, caiar o cais, cair no conto, contar um caso, causar um dano, dançar um tango, tanger um tigre, intrigar parceiros, parcelar uma dívida, dividir uma dádiva, duvidar de Deus, endeusar um rato, ratificar uma mentira, mitigar a ira, irisar o sol, solidar o mar, marejar os olhos, olear a pele, pelejar um ponto, pontilhar o pinho, penhorar um pranto, aprontar um golpe, golear um time, otimizar um átomo, automatizar um autômato, alterar a ordem, coordenar a condenação, concatenar as cores, corresponder clamores, aclarar rumores, arrumar pra cabeça, encabeçar motins, motivar discursos, descurar tarefas, tarifar remessa, remoçar velhice, velhaquear o tolo, tolerar o néscio, nescar o sábio, sabujar o rico, ricochetear o tiro, tirar o sono, sonorizar o espaço, espeçar o caldo, acaudalar o córrego, escorregar na ferradura, dedurar o dito, ditar as ordens, ordenar a desordem, desorbitar o desapreço, apreciar o incêndio, incidir noutro erro, erar uma cria, crivar uma caça, encaçapar uma bola, rebolar no rebojo, rebocar na subida, subentender ameaça, amealhar o milho, humilhar o malho, molhar a goela, goelar o ódio, idiotizar o povo, povoar o deserto, deserdar o filho, filiar o fanho, fanatizar o credo, creditar as perdas, perdoar o vencido, convencer o pertinaz, pertencer ao dono, donear a dama, domar o potro, protagonizar o corno, cornetar o cara, encarar o frio, frisar o tópico, topar a parada, parodiar a parábola, parabolar a reta, retificar a rota, arrotar saber, saberecer a batata, batalhar um cargo, carregar uma carga, caricaturar uma cara, caracterizar um ídolo, imolar um índio, indicar um candidato, candilar a uva, uivar feito o lobisomem, lobregar qual um fantasma, fantasiar a história, estiolar a estiagem, estipendiar o estágio, estagnar o fluxo, flutuar no pesadelo, pesar na conta, contactar o ponto e pontificar as pontadas. Como diz o rico: migalha também é pão.     
          

domingo, 19 de agosto de 2012

O desafio desafina

Anzol sem isca peixe não belisca, pisca não avisa, divisa não separa, vara não verga, vergonha não cora, coragem não derrota, derrogação não impede, impelido não acerta, o acerto não comina, o combo não responde, o respo não aduba, o dúbio não confunde, a confutação não condiz, o côndito não cura, o curau não sacia, o saci não salta, o solto não foge, os fogos não explodem, a exploração malogra, a sogra não fala, a falange não ataca, a taca não reprime, a represa não resiste, o registro não controla, o contrito não se salva, a selva não abriga, o brega não seduz, o sedimento não decanta, o decantado não merece, o merencório não desvanece, o devaneio não delira, o delito não infringe, o infrene não colide, o colírio não refresca, o refém não se refaz, a refrega não acalma, a palma não espalma, o espalhafato não arrebata, o arremate não segura, a secura não enxuga, a chaga não suplicia, a súplica não redime, o redemoinho não revira, a revisão não corrige, a corrida não alcança, o alcance não releva, o relevo não destaca, a estaca não crava,o cravo não odoriza, o desodorante não vence, o vencimento não supre, a supressão não retira, o retiro não recolhe, a recolagem não emenda, a reprimenda não repara, o reparte não agrada, a grade não prende, o aprendiz não assimila, a simetria não combina, o comboio não passa, o passado não perdoa, o perdulário não gasta, o gesto não atrai, a traição não magoa, o magote não soma, o som não desafina, o desafio não provoca, o provisório não decorre, o decote não mostra, a mestra não educa, o edulcorado não adoça, o adoecido não sara, a seara não floresce, o floreio não enfeita, o enfeixado não ajunta, a junta não arrasta, o arresto não confisca, o conflito não tem fim, a fima não vem a furo, a fúria não amedronta, o contra não contesta, o conteste não concorda, a corda não arrebenta, o arrebite não sustenta, o susto não abala, a bola não rola, a rolinha não bota, a bata não veste, o vestibular não aprova, o aproveitável não dispõe, o dispositivo não dispara, o disparate não irrita, o risível não tem graça, as graças não retribuem, a retrilha não limpa, a limpidez não aclara, a cara não engana, o esganado não sufoca, o sufixo não deriva. E daí, vai uma isca pra beliscar?                    

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A bocaina abocanha a abóboda


Comida boa não sobra, cobra coral não perdoa, patroa foge da cozinha, cosido não desata, desataviado não complica, a complexidade explica, o explícito explora, o explosivo detona, o detimento retarda, o retardado desliga, o deslinde ratifica, o raticida vicia, o viço avança, a avença ajusta, a justiça falha, a folha seca, a seca sorve, o sorvete some, a soma conta, o conto pega, o pégaso voa, a voaria caça, a coça acossa, o acosso acode, o acorde acorda, o acordo aborda, a borda entorna, o entorno atropela, o tropel atrai, a traição atrasa, a traça corrói, a corrupção convence, a convenção convoca, a convulsão contrai, a contramão colide, o colírio alivia, a aleivosia fere, o feriado pára, o pária pira, o pirata deprecia, a depressão comprime, o comprimento cumpre, a compra onera, o honorário supre, a supressão reprime, a reprise entedia, o enteato diviniza, a divisão soma, o somático sente, a sentença verbaliza, a verba paga, o pagão perjura, a perla perpetua, a perplexão abobalha, a abóbada abocanha, a bocaina preme, o premiê manda, o mandamento ensina, a sina situa, o situacionista sobe, sobeja o sobá, sublima o simples, o suplicante simplifica, o simpósio codifica, o codinome disfarça, a desfaçatez ostenta, a tentativa falha, a fila anda, o andaço desanda, o desancado descansa, o desencanto desatina, o desatilado instila, o instintivo regula, o régulo recua, a récua ataca, a taca machuca, o machucho maquina, o maquinário maquia, a mágica ilude, o ludo ludibria, o ludroso contamina, o contável contabiliza, o contato contextualiza, o contíguo comunica, o comunista comunga, o comutável equivale, o equívoco justifica, o justo ajusta, o ajutório salva, o silvo alerta, a aleta abana, o abono quita, o quisto inflama, a fleuma acalma, a acalmia fertiliza, a férula castiga, o castiço é caro, o couro é cru, a crueldade é fria, o friso enfeita, a desfeita ofende, a fenda clareia, a clareira protege, a prótase preambula, a bula embala, a bala alveja, o alvejante embranquece, o embrandecimento suaviza, o suasório convenia, o convencional padroniza, o padrinho provê, a prova reprova, o réprobo retém, o retesado reduz, o reduto elege, o herege duvida. Como diz o outro: vai um sortido aí?                    

domingo, 5 de agosto de 2012

Manuscript

Suster o susto


O sol nasce para todos, o lodo para os vilões, a vila para o singelo, o chinelo para o rasto, o rosto para o riso, o raso pra quem não nada, o nada para o omisso, o homizio para o foragido, o forasteiro para a aventura, o avental para a gordura, o gordo para o regime, o regimento para dirigir, a direção para seguir, o cego para guiar, o guichê para comprar, o comprazer para agradar, o agradecimento para pagar, o pagão para abjurar, a abjunção para liberar, o líbero para correr, o corrimão para proteger, a proteína para suster, o susto para acordar, a corda para enforcar, o forcado para pegar o touro, o ouro para pagar o foro, o forno para grelhar, o grilo para irritar, o rito para cansar, a canção para ninar, o ninho para morar, o mourão para amarrar, o amarrotado para passar, o passarinho para voar, o voal pra decorar, o decorrido para lembrar, o lembefe para punir, o pungir pra magoar, o mago pra seduzir, o sédulo para acertar, o aceite para quitar, a quietude para sonhar, o soneto para rimar, o rim para filtrar, a fritura para engordar, o engonço para interligar, a interlocução para se entender, entreter para ludibriar, lubrificar para facilitar, felicitação para reconhecer, reconquista para merecer, o merengue para dançar, a danação para exorcizar, a exortação para estimular, o estilo para diferençar, a deferência para homenagear, o homônimo para confundir, o confronto para provar, a provação para privar, a privatização para entregar, o entrevero para bagunçar, o bagulho pra viajar, a visagem para assombrar, a sombra para refrescar, o refratário para resistir, o registro para numerar, o numerário para comparar, a cooperação para construir,  a contração para contrariar, a contratação para constar, a constelação para brilhar, o brio para impor respeito, o respaldo para encostar, a encosta para escalar, o escaler para navegar, a navalha para escanhoar, o escanteio para o gol olímpico, o olimpo para o repouso, a reposição para recomeçar, a recomendação para conseguir, o consenso para empatar, a empatia para o acordo, a cor para pintar, o pinto para piar, o pio para perdoar, o perdulário para gastar, o gostar para o apetite, a apetência para agir, o ágio para o lucro, o lacre para fechar. Como diz o outro: alguém chamou?                      

sexta-feira, 27 de julho de 2012

O epitáfio do apóstata



Infeliz do rato que só tem um buraco, do macaco que tem só um galho, do baralho que não tem o coringa, da seringa sem a agulha, da patrulha sem apito, do pito sem fumaça, da carcaça sem o motor, do atirador sem o alvo, da alvorada sem o sol, da solidão sem a viola, da violência sem a malícia, da milícia sem a mala, do malabar sem a bola, da bolacha sem o chá, do xarope sem a tosse, do tosso sem o chinelo, do martelo sem o prego, do cego sem o bastão, do baião sem a zabumba, da tumba sem o epitáfio, da epístola sem o apóstolo, da apostasia sem a fé, do fenômeno sem o talento, do talhante sem a faca, da barca sem o remo, do ramo sem o tronco, do tranco sem o barranco, do banco sem o balanço, do balancê sem a quadrilha, do quadrado sem o canto, do canto sem o refrão, do refratário sem a lei, do leilão sem o martelo, do martel sem o martini, do mártir sem a cruz, do crucial sem a dor, do dolorido sem a pomada, do pomar sem a carambola, da carabina sem a mira, a mora sem o juro, o jurado sem o réu, o céu sem as estrelas, o estrelato em o palco, o talco sem o bebê, a bebedeira sem o bar, o mar sem a marola, a bitola sem os trilhos, o tralho sem o rio, o frio sem o edredom, o som sem a batida, a batina sem o terço, o quarto sem a cama, a fama sem a fortuna, o fortuito sem a surpresa, a represa sem a chuva, a luva sem a mão, a mãe sem os filhos, o atilho sem as espigas, a fadiga sem a rede, a sede sem a cacimba, a catimba sem a bola, a argola sem o laço, o abraço sem o afeto, o fato sem a foto, o foco sem o flash, a flexibilidade sem o jogo de cintura, a tintura sem o preto, o preito sem a gratidão, a gratificação sem o merecimento, o emagrecimento sem a dieta, a direta sem o rumo, o rumor sem o boato, o boto sem a lenda, a lêndea sem o cabelo, o cabedal sem o cabide, a cabidela sem o sangue, o sanguessuga sem a verba, o verbo sem o sujeito, o sujo sem o sabão, o sábio sem a lição, a liça sem o laço, o lacre sem o sinete, o sinal sem o recado, o rescaldo sem a brasa, a brisa sem o sereno, o serrano sem o frio, o vazio sem o silêncio, o silo sem o grão, a granja sem o pinto, o ponto sem o nó, a novidade sem a mídia. Como diz o outro: diga lá! 

domingo, 22 de julho de 2012

Manuscript 21-07

O piso afunda e a funda acerta


De grão em grão a galinha enche o papo, o sapo sapateia, o sapato aperta, a porta emperra, a terra pára, a cara suja, o sujeito xinga, a ginga gira, a gíria pega, a pega peia, a feia casa, a casa cai, a al qaeda ataca, a faca fura, a fera foge, o fugitivo escapa, a capa cobre, o cobertor esquenta, a menta aromatiza, o aramado prende, a prenda aprende, o alpendre assombra, a sombra protege, o proteico alimenta, o elemento compõe, a comporta suporta, a suposição considera, a consignação espera, a espora instiga, a espiga assa, o assaque ofende, a fenda clareia, o clarete embriaga, o embrião desembainha, a Bahia fascina, a faxina limpa, a lima amola, a mola cede, o sedento sacia, a súcia escandaliza, a pitonisa adivinha, o adversário adverte, o advérbio modifica, o módico facilita, o factoide banaliza, o abano refresca, o refrão repete, o repente improvisa, o impróvido relaxa, o relato cansa, a cansanção coça, o cocar enfeita, o enfeitiçado crê, o CD toca, a toca abriga, a briga divide, a dívida multiplica, o multíplice varia, a varicela contagia, a contagem confere, a confissão confunde, a confutação desmente, a desmistificação desmascara, o mascate masca, a mosca lambe, o alambique destila, o estilo marca, a marcha murcha, a micha sacia, o saci salta, o salteador assalta, o assafiado descansa, o desencanto dói, o doesto retorce, o torcedor vibra, o vibrafone toca, o toucador retoca, o reticente fica, a ficção fascina, o fascismo fecha, o feixe quebra, a cabra berra, a barra pesa, o piso afunda, a funda acerta, o acervo conserva, a conversa convence, a convalescença cura, o curau sustenta, o susto acorda, a corda arrebenta, a arrebentação escuma, a escuma elege, a elegia entristece, o entrincheirado resiste, o resignado desiste, o desinteressado esquece, o esquisito ignora, o ignóbil envergonha, o vergão educa, o edulcorado abusa, o abutre abate, o abatinga sabe, o sabiá gorjeia, a gorjeta compensa, o compêndio resume, o estrume fertiliza, a baliza sinaliza, o sinal identifica, o idêntico assimilha, a assimetria separa, a separata destaca, a estaca equilibra, o calibre especifica, o espécime tipifica, a tipografia imprime, a impressão fica. A gente come a galinha e enche o papo.                          

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Manuscript

A ferida aferida


Entre a cruz e a caldeira, a cadeira e o tamborete, o tambor e o clarinete, o sabonete e a toalha, a toalete e a cozinha, a coisinha e o gigantesco, o dantesco e a agonia, o agnóstico e o místico, o mestiço e o ariano, a ária e o orfeão, o órfão e o tutelado, o tutorial e o programa, os proclamas e o divórcio, o divisor e a fronteira, o frontal e o desafeto, o desafeito e o aprendiz, a perdiz e o caçador, o cassado e o eleitor, o leitor e o be-a-bá, o olê, olá e o oba-oba, a arroba e o ponto com, o coma e a morte cerebral, o celebrado e o vencedor, o vendedor e a inflação, a inflamação e a ferida, a aferida e a remarcada, a marca e o pirata, o pirado e o parado, o paradigma e o projeto, o projetor e a imagem, a miragem e o deserto, o desertor e o dedo-duro, a dedução e a hipótese, a hipoteca e a inadimplência, o inadiável e a urgência, a agência e a sede, a sede e a torneira fechada, a fachada e a ficha suja, o sujeito e o predicado, o precavido e o recatado, o recauchutado e o careca, o carecente e o mendigo, o mendorim e o maribondo, o moribundo e o finado, o finalista e o pódio, a poda e o facão, a facção e a falange, a falácia e a fraude, a fralda e a bunda, a abundância e o desperdício, o despertador e o cantar do galo, o galilé e o altar, o altair e o sol, o soldado e a fivela, a favela e o favor, o favo e o ferrão, o ferro e a ferrugem, a penugem e o pentelho, o pente e o piolho, o piolim e o nó cego, a cegonha e a lenda, a lêndea e a coceira, a cocheira e o coice, a foice e o martelo, o cutelo e a jugular, o julgamento e a fogueira, a fagueira e a cobra, o cobrador e o calote, o culote e o estribo, a tribo e o morubixaba, a baba e a boca, a bocaina e a tocaia, a toca e a borda da mata, o mito e o medo, o medonho e o pavor, o pivô e o delito, o deleite e o sono, o sonido e a festa, a fresta e a escuridão, as escusas e a recusa, a eclusa e o navio, o pavio e a chama, a chamada e a ausência, a querência e a distância, o dístico e a metáfora, a metafísica e o metabolismo, o metal e o letal, a letargia e o coma, a comanda e a comida, a cominação e a cadeia, a candeia e as trevas, as travas e o deletar, a delação e o delegado, o degolado e o cadafalso, a falsidade e a mentira. Como diz o outro: fui!                        

domingo, 1 de julho de 2012

Manuscript


Desatinada lucidez


Vontade também consola, marola também afoga, folga demais cansa, nuança também distingue, distenção também contrai, contrato também se rescinde, reincidência se releva, revelação se oculta, ocupação se distrai, traição também se perdoa, padrão também se quebra, cobra também se cria, crua também se come, cume também se escala, escola também desensina, sina também se muda, mudo nem sempre cala, bala também erra o alvo, calvo também se penteia, pentelho também se pinta, pinto canta de galo, galocha também é calçado, calcado também brota, grota também é casa, casa também o acaso, o ocaso também é começo, o comentício também é real, o realce também se apaga, a vaga também se preenche, o preexistente também volta, o voltário também opina, o opimo também falta, o falso também se usa, abusa também quem não tem, teme também o valente, vale também o nulo, anui também o contrário, contrai também um imune, imundície também cheira, cera também descola, desloca-se também o fixo, ficha-se também o limpo, limpalhos também cozinham, coisinhas também contam, contas também caducam, cadente também desafina, desatina a lucidez, lucila também o sol, solidão também diverte, diversidade também combina, combate também se perde, perdão também se nega, negaça também malogra, sogra também ama, amanhã é outro dia, o diabo também salva, o salva-vidas também se afoga, o afago também machuca, o açucar também salga, a mágoa também passa, o passageiro também demora, o morador também se muda, a moda também é démodé, a democracia também reprime, a reprise também é inédita, o inebriante também entedia, o enteado também é filho, o falho também acerta, a certeza também fura, o faro também perde a caça, a raça também perde a cor, a flor também perde o viço, o vício também serve ao dono, o sono também desperta,  esperteza também erra o pulo, o chulo também comunica, o comunista também acumula, a mula também empaca, a paca também peca, o pico também fica, a foca também se afoga, o fogo também se apaga, apego também separa. Como diz o outro: já não tá mais aqui quem falou.