quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Crônica da Semana

ABOMINÂNCIAS

Tudo que não quero neste ano que passa com pressa é a conversa de que tudo pode dar errado, é o passado batendo à minha porta, a torta de ontem e os tortos de sempre, a trempe à deriva nas águas aguçadas, os aguços nefastos na mão dos nefandos, o nefilíbata e seus versos controversos, o reverso do fato e seus rumores, o rumo indeciso das saídas equivocadas, a espada cega que não corta mas fura, o furo n’água da grande aventura, a ventura fortuita do saber inútil, o fútil desejo de chegar primeiro, primar por detalhes irrelevantes, resvalar nos adjetivos compostos, decompor fenômenos sobrenaturais, naturalizar alienígenas famintos, famígeros batendo à minha porta, portador de vírus ocupando minha tela, tigela vazia em mesa farta, carta aberta descrevendo tragédia, tragos a mais para afogar os afagos, afagia de mais na hora da ceia, seios a mais no desmame, vexame na apresentação, apreensão na prensa, extensa folha corrida, corroída correção na corda, acordar em pleno desacordo, desacorçoar a um passo da chegada, achegar pontos divergentes, diversificar rotina extenuante, estender doutrinas redundantes, arredondar contas de chegar, chegar antes da hora aprazada, apresar a presa desprendida, desaprender as lições ensinadas, assinar a promissória em branco, brandir depois de atacar, atacanhar a grandeza de espírito, especular o fato consumado, consumir o sumo sacerdote, adotar medidas desmedidas, mediar querelas insolvíveis, sorver discursos impensados, prensar fidelidades duvidosas, dividir o que foi diminuído, dirimir a dúvida cruel, cruciar o réu primário, premir por nada mais que a verdade, verdear além da cor natural, maturar até envelhecer, envilecer pra viver melhor.          

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