domingo, 3 de abril de 2011

Crônica da Semana

PRETÉRITO
 
Eu sou do tempo em que se amarrava cachorro com linguiça,  a preguiça o oitavo pecado capital, o capital  fruto exclusivo do trabalho, o alho a arma mais eficaz contra o vampiro, o tiro não saia pela culatra, a prata não era feita em casa, a asa servia apenas para voar, a voação não deixava a gente entender, o querer fazia a gente poder, o fuzuê apenas uma grande festa, a floresta uma mata fechada, a fachada um excelente chamariz, o nariz servia somente para respirar ar puro, o seguro morria de velho, o espelho refletia apenas a imagem, a viagem era ida e volta, as portas todas se abriam, sorriam todas as platéias, as coméias eram puro mel, o papel mera formalidade, a vaidade estritamente ocasional, a ocasião fazia o ladrão, o canhão decidia a guerra, a guelra a respiração do peixe, peixada só cozida e ensopada, parada somente nas manhãs de feriado, o ferido tinha vaga no hospital, o mal era cortado pela raiz, a matriz era também a filial, o filiado indicava o dirigente, o da frente da fila chegava primeiro, janeiro era o primeiro mês do ano, o anel valia tanto quanto o diploma, o aroma exalava uma fragrância perfumada, a manada não passava de bois e vacas, a faca cortava tanto quanto a fé, aférese não passava da supressão do fonema no início da palavra, palavrão ia além de um desabafo, desabar mais do que cair com um simples tropeção, tropear era apenas fazer barulho, entulho resto de construção, construtivo apenas o benfeitor, benfeitoria só a que valorizava, valoroso somente o ato de heroísmo, erotismo nada mais que o nu artístico, arteiro o menino sadio, sádico exclusivamente no cinema, dilema uma situação embaraçosa, baraço uma corda para enforcados, forcado apenas o homem que pegava touro a unha, cunha muito mais que um simples calço, falso o mesmo que  traidor. Quer saber de uma coisa?  Eu prefiro continuar naquele tempo.               

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