segunda-feira, 11 de abril de 2011

Crônica da Semana

RÉQUIEM

Eu perdi a última rodada, a estrada de repente parece ter chegado ao fim, por mim não passam sequer as menores decisões, às missões mesmo as menos relevantes meu nome não é indicado, meu lado da rua é o menos habitado, meu estado de saúde é o que exige mais cuidado, meu passado recente é o mais lamentável, instável é o clima de minha temperatura, loucura tem sido os negócios que faço, palhaço é do que me chamam quem me assiste, tristes são os meus mais alegres momentos, o fermento do meu pão é pouco, o porco do meu chiqueiro é magro, o cargo que consegui é subalterno, o terno é pequeno demais pro meu tamanho, meu banho é sem sabonete, a cotonete é reutilizada, minha fada veio de vassoura, minha tesoura não corta nem fura, minha amargura fura e corta, as portas se fecham à minha frente, a enchente levou minha casa, minha causa perdeu a razão, a ração está com prazo de validade vencido, meu vencimento acaba de ser bloqueado, meu bloco impedido de sair no próximo Carnaval, meu jornal sem o caderno B, meu BO sem o visto do escrivão, minha oração com Deus fora do lugar, meu lugar ocupado por meu mais fraco concorrente, minha semente semeada em solo estéril, os critérios mudados para me prejudicar, meu pomar irrigado pela chuva ácida, meu ácido úrico extrapolando a taxa, meu caixa  automático desativado, meus desatinos  ressaltados, meus sobressaltos ignorados, assolados meus palpites, palpitantes as necessidades mais prementes, proeminentes as dívidas impagáveis, questionáveis as quitações antigas, ambíguas as explicações recentes, coerente somente na assunção da culpa, desculpa nem pensar, dispensável só o direito de reclamar, chorar somente a dor alheia, alheado do que mais interessa, pressa só depois que acabar a corrida. Afinal, você acredita em vida depois da morte?             

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