sábado, 27 de novembro de 2010

Crônica da Semana

PERMISSÕES

Eu não posso por minhas culpas julgar o meu semelhante, diante do altar negar o meu juramento, no momento do prazer gozar como se tivesse só, somar minhas dádivas e dividir minhas dívidas, duvidar do absolutamente certo, acertar o alvo sem fazer a mira, admirar o feio pra desdenhar o belo, beliscar o petisco pra matar o apetite, apetrechar o pato para vê-lo puto, putrefazer o ponto pra apagar o pito, pipocar no pico pra cair no poço, possuir a peça pra pecar no paço, passar para futuro sem se fazer presente, pressentir o preço sem apressar o prazo, aprazar o preito para garantir a gratidão, gratificar o grato que não negou um prato, praticar o amor para compensar a paixão, apaisar a natureza para preservar o verde, verticalizar o mando para não perder para o medo, mediar o campo para prevenir o contra-ataque, atracar a nau pra descansar o mar, marejar os olhos para lavar a saudade, saldar a conta para quitar o passado, ultrapassar os limites para chegar atrasado, atrancar o rio para liberar a passagem, passear sem destino para alcançar o aquém, queimar as etapas para pisar no sorriso, sorrir nas derrotas para não chorar na vitória, vistoriar os bolsos para contar o dinheiro, endinheirar o santo para quitar a graça, gracejar do fado para não se tornar fatídico, enfatizar o foco para não queimar o filme, firmar o pulso e segurar a peteca, petegar a tora para amarrar o touro, estourar o rojão para avisar o vilão, velicar o velho para sentir seus sentidos, sentimentalizar o canto para encantar a sereia, serenar os ânimos para evitar a fadiga, fatiar o bolo para não empanturrar, empantufar e não perder a pose, apossar-se da emoção para não chorar e conseguir escapar ileso.        

Nenhum comentário:

Postar um comentário