sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Crônica da Semana

NOITE SILENCIOSA

Só quero uma coisa do papai Noel, o céu como testemunha, a unha como única arma de defesa, a tristeza como única razão para chorar, o olhar como luz para toda a escuridão, o refrão da paz para qualquer cantiga, a lombriga como única companhia inseparável, o memorável como melhor momento no futuro, o muro como principal instância de decisão, a versão como verdade verdadeira, a cegueira desfeita num raio de luz, a cruz carregada sem o peso da culpa, a desculpa aceita com naturalidade, a maldade desfeita pelo entendimento, o condimento dosado pelo deleite, a dileção aferida pela reciprocidade, a veleidade acordada pela insolvência, a indulgência votada pela virtude, as vicissitudes voltadas para o passado, o passadiço seguro para o incerto, o perto como lugar mais distante, o claudicante como o primeiro a chegar, o divagar como o próximo a entender, o entendedor como o último a duvidar, a dúvida como única barreira, o barreado a se lavar na frente, a fronte como derradeira afronta, a fonte de água limpa e inesgotável, o notável de ficha limpa e incorruptível, o nível regular das águas do rio, o vazio profundo da ignorância, a ignomínia no fundo do esquecimento, o aquecimento bem longe da calota polar, a polaridade como atalho para a convergência, o convenível como objeto de desejo, o ensejo para avultar o aproveitamento, o aprovisionado para suprir o provisório, o provindo para prever a aventura, a ventura para prover o carecente, o crescente para intumescer o minguante, à míngua para conhecer o outro lado, o laudo para não confundir a morte, a sorte para todo fim de ano não depender de papai Noel.

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